O SOFRIMENTO E OS ANJOS
Teresinha tinha consciência da diferença entre Anjo e homem. Pensar-se-ia que ela teria inveja dos Anjos, mas é o contrário! Ela tinha entendido a grandeza da Encarnação. "Quando vejo o Eterno envolvido em paninhos e ouço o fraco choro desse Verbo divino, ó Mãe querida, não invejo mais os Anjos, porquanto o Onipotente é meu amado Irmão! ..." (Poesia 54: "Porque eu te amo, Maria"). Também os Anjos compreendem profundamente o alcance da Encarnação e teriam, se fosse possível, inveja de nós pobres criaturas de carne e sangue. Num teatro natalino, no qual ela dá nomes aos Anjos conforme suas tarefas em relação a Cristo - por exemplo, o Anjo do Menino Jesus, o Anjo da Sagrada Face, o Anjo da Eucaristia - ela coloca na boca do Anjo do Juízo Final o canto: "Diante de Ti, doce Criança, o Querubim se inclina! Admira, espantado, Teu inefável amor. Quer, como Tu,sobre a sombria colina poder um dia morrer!" Então todos os Anjos cantam o estribilho: "Como é imensa a alegria da humilde criatura. Nos seus arrebatamentos os Serafins desejam deixar, ó Jesus, a angélica natureza, e fazer-se criança!". (Os Anjos no presépio, cena final). Aqui nos deparamos com o motivo da estima de Santa Teresinha para com os Anjos, isto é: sua 'santa inveja' em relação aos homens, pelos quais o Filho de Deus Se fez homem e morreu. Na poesia em honra de Santa Cecília, um Serafim explica esse mistério a Valeriano da seguinte forma: "Eu me abismo em Deus, Seus encantos contemplo, mas não posso imolar-me nem sofrer por Ele. Não posso Lhe ofertar nem lágrimas nem sangue; apesar de todo meu amor, não posso morrer... A pureza de um Anjo é a herança luminosa de uma felicidade imensa que não passa, mas neste ponto, sim, vós venceis os Serafins: sois puros e, além disso, ainda podeis sofrer" (Poesia 3: Santa Cecília).
Mais adiante, Jesus Se dirige a um Anjo com as seguintes palavras cheias de luz e consolo: "Ó tu! que quiseste na terra compartilhar Minha cruz, Minha dor; belo Anjo, escuta este mistério: toda alma padecente é irmã tua. No Céu, o brilho do seu sofrimento virá também na tua fronte recair, e o brilho da tua pura essência iluminará o mártir!" (Os Anjos no presépio, Cena 5,10-11). Portanto, no Céu, Anjo e homem terão comunhão, parte e alegria com a glória do outro. Assim, na economia da salvação existe uma maravilhosa e íntima comunhão de pessoas.
A SUA MISSÃO NO CÉU E NA TERRA
Aproximando-se da morte, Santa Teresinha confessou: "Sinto que vou entrar no repouso... Mas sinto principalmente que minha missão vai começar; minha missão de fazer com que amem o bom Deus como eu O amo; de dar às almas a minha pequena via. Se o bom Deus realizar os meus desejos, meu Céu se passará na terra, até o fim do mundo. Sim, quero passar o meu Céu fazendo bem sobre a terra. Não é impossível, pois na própria visão beatífica os Anjos velam por nós" (O Caderno Amarelo, 17 de julho de 1897). Assim vemos qual concepção da sua missão celestial ela tinha, à luz do serviço dos Anjos.
Ao Pe. Roulland ela escreve: "Ah! Meu irmão, sinto, ser-vos-ei muito mais útil no Céu do que sobre a terra e é com felicidade que venho anunciar-vos meu próximo ingresso nessa bem-aventurada Cidade, certa de que compartilhareis da minha alegria e agradecereis ao Senhor por dar-me os meios para ajudar-vos mais eficazmente nas vossas obras apostólicas. Não pretendo ficar inativa no Céu, meu desejo é continuar trabalhando para a Igreja e as almas. Peço isto a Deus e tenho certeza que Ele atenderá meu pedido. Sem que cessem de ver a divina Face, perdendo-se no Oceano infinito do Amor, os Anjos não se ocupam de nós continuamente? Por que Jesus não me permitiria imitá-los?" (Carta 254, 14 de julho de 1897).
Fonte:Obra dos Santos Anjos
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