por Alberto Garuti
Cinqüenta anos de ditadura tentaram apagar todos os sinais visíveis da
Igreja católica no país.
Será que a semente, que antes foi lançada, morreu?
ão existe nenhuma estrutura de Igreja na Coréia do Norte, mas isso não
quer dizer que não existam católicos. A perseguição contra a pequena
Igreja católica deste país começou no fim do ano 1945, quando as forças
de ocupação soviéticas impuseram um regime comunista. Em 9 de maio de
1949, os 123 missionários do vicariato apostólico de Wonsan foram
presos, em seguida os 14 de Pyongyang, alguns dias depois. Em pouco
tempo, não havia nenhum padre católico em liberdade.
O governo comunista norte-coreano decidiu eliminar totalmente a fé
católica: cinco bispos, 82 padres, 25 monges, 34 religiosas e quatro
seminaristas morreram mártires. Havia cerca de 50 mil católicos na
Coréia do Norte, no momento da tomada do poder pelos comunistas: alguns
conseguiram fugir para a Coréia do Sul e o que aconteceu aos outros,
ninguém ficou sabendo nada. Contudo, em 1985, o governo norte-coreano
convidou ao país uma delegação do Conselho Ecumênico das Igrejas, e esta
constatou a presença de vários milhares de cristãos, especialmente
protestantes, sem templos nem igrejas.
A SEMENTE NÃO MORREU
Atualmente, os cristãos são poucos, mas é muito provável que, se a
evangelização pudesse recomeçar, muitas pessoas abraçariam o
cristianismo. Eis alguns exemplos. O padre Gerard Hammond, missionário
de Maryknoll, está na Coréia do Sul desde 1960. Ele já visitou várias
vezes a Coréia do Norte em missões humanitárias. Durante uma dessas
viagens, viajando de carro e sentado ao lado do motorista norte-coreano,
ele começou a rezar o terço, enquanto o outro o olhava. Num certo
momento, o carro deu um solavanco, o padre fez um movimento brusco e,
por causa disso, o terço que estava segurando quebrou.
O padre pediu ao motorista que parasse um momento para descansar e lhe
perguntou se tinha por acaso uma pinça. O motorista perguntou para que
serviria e o padre lhe mostrou o terço quebrado. O motorista disse que
ele mesmo o consertaria, mas para isso saiu do carro e se afastou, indo
além de uma curva, para não ser visto pelos ocupantes do carro que vinha
atrás. Pouco depois, voltou com o terço consertado e disse: "Eu sei o
que é. Minha avó tinha um". Em seguida perguntou para que servia e o
padre disse que servia para rezar, especialmente para pedir a Deus a
unificação do povo coreano. O motorista ficou muito satisfeito e sorriu a
viagem toda.
Outra vez, o mesmo padre estava visitando um hospital e viu um homem
idoso, muito doente, que perguntava ao médico quem ele era. O médico
disse isso ao padre e acrescentou que o paciente não tinha muito tempo
de vida. O padre se apresentou e disse ser um sacerdote católico. O
doente respondeu, chorando, que conhecia os padres católicos. O padre
não poderia fazer um discurso religioso pois isso era proibido e havia
outros pacientes na mesma sala.
Então, ele se expressou nestes termos: "Eu sei o que existe no seu
coração. Aperte a minha mão. Sei que você irá para um lugar onde estará
muito feliz". E, bem baixinho, ao ouvido, lhe disse que Jesus o estava
esperando. Também aquela pessoa sorriu, contente. Provavelmente é isso o
que restou dos antigos cristãos. Os filhos, nascidos sob o novo regime,
ouviram alguma coisa dos pais ou dos amigos, guardaram uma lembrança e
uma impressão em seu coração de algo que seria muito bonito seguir, mas
que não puderam porque, durante muitos anos, foi taxativamente proibido.
A SEMENTE COMEÇA BROTAR
Mas algo começa a mudar. Todo domingo na igreja católica da capital,
Pyongyang, os cristãos agora se reúnem para a oração dominical. Não há
missa porque não há padre: todos foram mortos ou exilados no começo da
revolução e nunca mais foi permitido ter um. Os cristãos se reúnem para
um culto; se por acaso estiver presente algum padre estrangeiro, de
passagem, esse pode celebrar.
No total, seriam três mil católicos em todo o país, dos quais 800 na
capital. Existem até uns pequenos grupos engajados, por exemplo, a
Associação Católica Romana da Coréia (Acrc), formada por católicos
nascidos depois da guerra da Coréia (1950-53), que procura manter os
contatos com os católicos que moram longe da capital, visitam
freqüentemente os católicos em suas cidades e orientam sua vida de fé.
Mas isso é muito pouco no meio dos 23 milhões de norte-coreanos. Além
desses poucos sinais visíveis, certamente existem traços de
religiosidade na população. É o que os exemplos já citados mostram. Mas
será sempre pouca coisa, se pensarmos que o regime, durante cinqüenta
anos, proibiu qualquer manifestação religiosa. O pouco que restou
começará a brotar com força, tão logo haja uma maior abertura no país.
Fonte:www.professorfariahistoria.blogspot.com.br
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