domingo, 26 de agosto de 2012

A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos, formados na Escola do Imaculado Coração de Maria

No ano de 2009, na solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, sexta-feira 19 de Junho de 2009 – dia dedicado tradicionalmente à oração pela santificação do clero – o Papa Bento XVI, proclamou oficialmente o “Ano Sacerdotal” por ocasião do 150.º aniversário do dia natalício de São João Maria Vianney, o Santo Patrono de todos os párocos do mundo. Tal ano, pretendia “contribuir para fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um seu testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo” .
O Papa Bento XVI, ao meditar a célebre frase de Santo Cura d’Ars, “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”, explica-nos que “esta tocante afirmação permite-nos, antes de mais nada, evocar com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes não só para a Igreja mas também para a própria humanidade. Penso em todos os presbíteros que propõem, humilde e quotidianamente, aos fiéis cristãos e ao mundo inteiro as palavras e os gestos de Cristo, procurando aderir a Ele com os pensamentos, a vontade, os sentimentos e o estilo de toda a sua existência. Como não sublinhar as suas fadigas apostólicas, o seu serviço incansável e escondido, a sua caridade tendencialmente universal? E que dizer da fidelidade corajosa de tantos sacerdotes que, não obstante dificuldades e incompreensões, continuam fiéis à sua vocação: a de ‘amigos de Cristo’, por Ele de modo particular chamados, escolhidos e enviados?”
Mas, bem lembra o Santo Padre que infelizmente, pela infidelidade de alguns sacerdotes, existem também situações nunca suficientemente lamentadas, “em que é a própria Igreja a sofrer pela infidelidade de alguns dos seus ministros. Daí advém então para o mundo motivo de escândalo e de repulsa. O máximo que a Igreja pode recavar de tais casos não é tanto a acintosa relevação das fraquezas dos seus ministros”, mas, sobretudo, investir numa “renovada e consoladora consciência da grandeza do dom de Deus, concretizado em figuras esplêndidas de generosos pastores, de religiosos inflamados de amor por Deus e pelas almas, de diretores espirituais esclarecidos e pacientes”.
Assim,  o Santo Padre apresenta os veneráveis ensinamentos e imitáveis exemplos de  S. João Maria Vianney a fim de oferecer a todos os sacerdotes “um significativo ponto de referência”. Escreve o Sumo Pontífice:  “O Cura d’Ars era humilíssimo, mas consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo: ‘Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina’. Falava do sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiados a uma criatura humana: ‘Oh como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. (…) Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia’. E, ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: ‘Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem a há-de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. (…) Depois de Deus, o sacerdote é tudo! (…) Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu’. Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal daquele santo pároco, podem parecer excessivas. Nelas, porém, revela-se a sublime consideração em que ele tinha o sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de responsabilidade sem fim: ‘Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. (…) Sem o padre, a morte e a paixão de Nosso Senhor não teria servido para nada. É o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra (…) Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, senão houvesse ninguém para nos abrir a porta? O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecónomo do bom Deus; o administrador dos seus bens (…) Deixai uma paróquia durante vinte anos sem padre, e lá adorar-se-ão as bestas. (…) O padre não é padre para si mesmo, é-o para vós’.(...)O Santo Cura ensinava os seus paroquianos sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar, detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus Eucaristia. ‘Para rezar bem – explicava-lhes o Cura –, não há necessidade de falar muito. Sabe-se que Jesus está ali, no tabernáculo sagrado: abramos-Lhe o nosso coração, alegremo-nos pela sua presença sagrada. Esta é a melhor oração’. E exortava: ‘Vinde à comunhão, meus irmãos, vinde a Jesus. Vinde viver d’Ele para poderdes viver com Ele’. ‘É verdade que não sois dignos, mas tendes necessidade!’. Esta educação dos fiéis para a presença eucarística e para a comunhão adquiria um eficácia muito particular, quando o viam celebrar o Santo Sacrifício da Missa.
Prevenido pelo Bispo de que iria encontrar uma situação religiosamente precária naquela pequena aldeia com 230 habitantes –“Naquela paróquia, não há muito amor de Deus; infundi-lo-eis vós” – chegou nosso santo a Ars, consciente de que a sua missão ali era encarnar a presença de Cristo, testemunhando a sua ternura salvífica. Desse modo, inicia sua missão oferecendo-se por ela: “Meu Deus, concedei-me a conversão da minha paróquia; aceito sofrer tudo aquilo que quiserdes por todo o tempo da minha vida!” e dedicando-se com todas as suas energias, pondo no alto de cada uma das suas ideias a formação cristã do povo a ele confiado.
O Papa Bento XVI , nesta mesma na carta escrita aos sacerdotes, convidaos seus “irmãos no sacerdócio”, a pedirem a Deus a graça de poderem também assimilar o método pastoral de S. João Maria Vianney: “A primeira coisa que devemos aprender é a sua total identificação com o próprio ministério. Em Jesus, tendem a coincidir Pessoa e Missão: toda a sua ação salvífica era e é expressão do seu ‘Eu filial’ que, desde toda a eternidade, está diante do Pai em atitude de amorosa submissão à sua vontade”.  Identificação esta concedida pela Santíssima Virgem, por quem o Santo Cura d'Ars nutria uma devoção filial, a tal ponto que em 1836, antecipando a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, já tinha consagrado a sua paróquia a Maria, "concebida sem pecado", ele que muito antes já se fizera seu escravo por amor. E conservou o hábito de renovar com frequência esta oferta da paróquia à Virgem Santa, ensinando aos fiéis que "era suficiente dirigir-se a Ela para ser atendidos", pelo simples motivo que Ela "deseja, sobretudo ver-nos felizes". Santo Cura d'Ars que não apenas viveu profundamente a Devoção a Nossa Senhora, mas também a propagou com zelo e ardor, legou-nos um manual completo desta devoção a Santíssima Virgem com a qual converteu muitas almas a Cristo, no qual ele mesmo expõe a doutrina, a prática, os deveres, antiguidade, razões e a fórmula desta devoção, tal qual ele mesmo recolheu do Tratado de São Luis Maria Grignion de Montfort, escrevendo de maneira prática um resumo perfeito de tudo o que se deve saber a respeito da total consagração a Jesus por Maria, ou simplesmente Santa Escravidão de amor.
Na Audiência Geral do dia 12 de agosto de 2009, o Papa Bento XVI sublinhou que “o Concílio Vaticano II convida os sacerdotes a olhar para Maria como o modelo perfeito da própria existência, invocando-a como "Mãe do sumo e eterno Sacerdote, como rainha dos Apóstolos, auxílio do seu ministério". E os padres –prossegue o Concílio– "devem amá-la e venerá-la com devoção e culto filial” (cfr. Presbyterorum ordinis, 18). O Santo Cura d'Ars, em quem pensamos em particular neste ano, gostava de repetir: "Jesus Cristo, depois de ter-nos dado tudo que podia dar, quer ainda tonar-nos herdeiros daquilo que ele tinha de mais precioso, sua Santa Mãe" (B. Nodet, Il pensiero e l’anima del Curato d’Ars, Torino 1967, p. 305). Isso vale para cada cristão, para todos nós, mas de modo especial para os sacerdotes”.  Lembrou ainda que “peculiar relação de maternidade existente entre Maria e os sacerdotes constitui a fonte primária, a razão fundamental da predileção que ela tem por cada um deles. Maria os prefere, de fato, por duas razões: porque eles são mais parecidos com Jesus, amor supremo de seu coração, e também porque, como Ele, estão envolvidos na missão de proclamar, testemunhar e dar Cristo ao mundo. Pela própria identificação e conformação sacramental a Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, cada sacerdote pode e deve sentir-se realmente filho amado desta suprema e humilde Mãe.”
Outro grande exemplo de que para os sacerdotes viverem bem o seu sacerdócio devem vive-lo com Maria Santíssima é o do Beato João Paulo II. Este grande Pontífice e admirável Testemunha de Cristo, como nos diz o Papa Bento XVI, na Homilia de sua beatificação :“Karol Wojtyła, primeiro como Bispo Auxiliar e depois como Arcebispo de Cracóvia, participou no Concílio Vaticano II e bem sabia que dedicar a Maria o último capítulo da Constituição sobre a Igreja significava colocar a Mãe do Redentor como imagem e modelo de santidade para todo o cristão e para a Igreja inteira. Foi esta visão teológica que o Beato João Paulo II descobriu na sua juventude, tendo-a depois conservado e aprofundado durante toda a vida; uma visão, que se resume no ícone bíblico de Cristo crucificado com Maria ao pé da Cruz. Um ícone que se encontra no Evangelho de João(19, 25-27) e está sintetizado nas armas episcopais e, depois, papais de Karol Wojtyła: uma cruz de ouro, um «M» na parte inferior direita e o lema “Totus tuus”, que corresponde à conhecida frase de São Luís Maria Grignion de Monfort, na qual Karol Wojtyła encontrou um princípio fundamental para a sua vida: ‘Totus tuus ego sum et omnia mea tua sunt. Accipio Te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, Maria’ – Sou todo vosso e tudo o que possuo é vosso. Tomo-vos como toda a minha riqueza. Dai-me o vosso coração, ó Maria”
O Papa João Paulo II fez questão de sublinhar no livro Dom e Mistério que “ no período em que começava a delinear-se minha vocação sacerdotal, também graças ao influxo de Jan Tyranowski, a minha maneira de compreender o culto à Mãe de Deus sofreu uma certa mudança. Eu já estava convencido de que Maria nos leva a Cristo, mas naquele período comecei a compreender que também Cristo nos conduz à sua Mãe (...) Houve um momento em que, de certa forma, questionei meu culto a Maria, temendo que ele, dilatando-se excessivamente, terminaria por comprometer a supremacia do culto devido a Cristo. Foi então que me veio em auxílio o livro de São Luís de Montfort, ‘Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem’. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria nos aproxima de Cristo, nos conduz a ele, com a condição de vivermos o seu mistério em Cristo. (...) O tratado de Montfort pode nos perturbar com o seu estilo um tanto enfático e barroco, mas a essência das verdades teológicas nele contidas é incontestável. O autor é um teólogo de primeira. Seu pensamento mariológico encontra-se enraizado no Mistério trinitário e na verdade da encarnação do Verbo de Deus. (...) Compreendi então por que a Igreja recita o Ângelus três vezes ao dia. Compreendi quão cruciais são as palavras desta oração: “O anjo do Senhor anunciou a Maria. E Ela concebeu por obra do Espírito Santo. Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra. E o Verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós’... Palavras realmente decisivas! Com base nestas experiências espirituais foi-se delineando o itinerário de oração e de contemplação que haveria de orientar meus passos no caminho para o sacerdócio, e posteriormente, em todas as vicissitudes até hoje”.
Por isso, o “Tratado sobre a verdadeira devoção a Maria”, escrito por São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) no início de 1700, apesar de ser endereçado a todos os cristãos em geral, pode ser aplicado de modo particular aos sacerdotes, para que estes “sejam santos” segundo o desejo expresso pelo Papa João Paulo II e confirmado pelo Papa Bento XVI, e sejam sacerdotes “segundo o Sagrado Coração de Jesus”.


Um testemunho sobre a importância do “Tratado” na vida sacerdotal foi apresentado pelo Card. Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, que interveio em 24 de maio, em Dublin, sobre o tema – A Nova Evangelização: sacerdotes e leigos. O grande desafio do novo milênio.
O Cardial Dias confidenciou que, no pequeno livro providencialmente comprado em uma livraria de Bombaim, conheceu o segredo que São Luís Maria Grignion de Montfort revelava, “um atalho para a santidade”: “o segredo é Maria, a obra-prima da criação de Deus. Luís de Montfort nos mostra como conhecer, amar e servir Nosso Senhor com Maria como nossa Mãe, Modelo e Guia. Este livro é um tesouro inestimável”. No Tratado, cuja leitura foi recomendada por muitos Pontífices, São Luís Maria Grignion de Montfort “apresenta uma vívida imagem da Bem-aventurada Virgem Maria, que é muito relevante na sua relação com os sacerdotes”.
O Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos falou então sobre as três principais dimensões da vocação sacerdotal: um chamado à santidade, um chamado ao serviço e um chamado ao combate espiritual. “São Luís Maria nos ensina como Maria possa desempenhar um papel essencial em cada uma delas”, disse o Cardeal. “A santidade consiste em amar a Deus sobre todas as coisas com todo o nosso coração, a nossa alma e a nossa mente. Para alcançar este objetivo, Grignion de Montfort convida a consagrar-se completamente a Jesus por meio de Maria, em uma ‘escravidão de amor’. Uma escravidão que certamente não degrada a pessoa humana, mas enobrece e enaltece a dignidade humana (...)
A Virgem Maria constitui um exemplo a seguir: ‘Ela se entregou totalmente a Deus como sua criatura sem levar nada para si mesma. Toda a sua existência foi dirigida unicamente a Deus. Deste modo, a Bem-aventurada Virgem Maria ensina a nós, sacerdotes, que devemos ter o cuidado de não nos colocar em um pedestal ou de tomar para nós mesmos a glória devida somente a Deus. Um sacerdote deve constantemente recordar a si mesmo que a sua vocação sacerdotal é um livre dom de Deus, dado não para méritos pessoais, talentos ou metas alcançadas, mas para a sua santificação e para construir o povo de Deus”.
O Card. Dias concluiu a sua intervenção recordando que, nos tempos em que vivemos, o sublime chamado ao sacerdócio requer ser “homens de Deus e homens pelos outros” e “no Tratado sobre a verdadeira devoção a Maria temos um segredo que pode ajudar a nós, padres, a levar adiante de modo eficaz esses impulsos da nossa vocação sacerdotal, de modo que sejam bem aceitos aos olhos de Deus. O segredo é Maria, por meio da qual São Luís Maria Grignion de Montfort nos chama a consagrar-nos como escravos do amor de Jesus”.

Ir.Maria Teresa da Santa Escravidão de Amor

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