Os sete
sacramentos tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam
nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma
certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual .
Seguindo esta analogia,
exporemos primeiro os três sacramentos da iniciação cristã (capítulo
primeiro), depois os sacramentos de cura (capítulo segundo) e
finalmente os que estão ao serviço da comunhão e da missão dos fiéis
(capítulo terceiro). Esta ordem não é, certamente, a única possível, mas
permite ver que os sacramentos formam um organismo, no qual cada sacramento
particular tem o seu lugar vital. Neste organismo, a Eucaristia ocupa um
lugar único, como «sacramento dos sacramentos»: «todos os outros sacramentos
estão ordenados para este, como para o seu fim» .
O que é um sacramento?
Procuremos, em primeiro lugar,
compreender bem o que é um sacramento, donde vem e para que serve. Esta simples
noção fará cair já a maior parte das objeções, como, perante a exposição clara
da verdade, dissipam-se todos os erros.
O catecismo diz que "sacramento
é um sinal sensível, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para produzir a
graça em nossas almas e santificá-las."
Desta definição resulta que três
coisas são exigidas para constituir um sacramento:
a) "Um sinal sensível",
representativo da natureza da graça produzida. Deve ser "sensível"
porque se não pudéssemos percebê-lo, deixaria de ser um sinal. Este sinal
sensível consta sempre de "matéria" e de "forma",
isto é, da matéria empregada e das palavras pronunciadas pelo ministro do
sacramento.
b) Deve ser "instituído
por Jesus Cristo", porque só Deus pode ligar um sinal visível a faculdade
de produzir a graça. Nosso Senhor, durante a sua vida mortal, instituiu
pessoalmente os sete sacramentos, deixando apenas à Igreja o cuidado de
estabelecer ritos secundários, realçá-los com cerimônias, sem tocar-lhe na
substância.
c) "Para produzir a graça".
Isto é, distribuir-nos os efeitos e méritos da redenção que Jesus Cristo
mereceu por nós, na cruz... Os sacramentos comunicam esta graça, "por
virtude própria", independente das disposições daquele que os
administra ou recebe. Esta qualidade, chamada pela teologia "ex opere
operato", distingue os sacramentos da "oração", das
"boas obras" e dos "sacramentais", que tiram
a sua eficácia "ex opere operantis" das disposições do
sujeito.
Os sacramentos são
sinais de graças
A graça, que a teologia define "um
dom sobrenatural de Deus", por causa dos méritos de Jesus Cristo, como
meio de salvação, é tudo na religião católica, é sua seiva, o seu sopro,
a sua alavanca.
Querendo ou não, todos os homens
devem viver da graça ou se perderão eternamente. Ou escolhem a vida de Cristo
que é a graça, ou a vida da carne que é o vício; a salvação ou a perdição.
Santo Agostinho define a graça da
seguinte forma: "A graça é como o prazer que nos atrai... Não há nada
de duro na santa violência com que Deus nos atrai... tudo é suave e benfazejo"
(Sermo 133, cap. XI). Esta palavra é admirável: a graça é um verdadeiro poder atrativo,
que provém à vontade, a estimula e leva a Deus, a atrai por deleitação
interior, e faz amar, como por instinto, Aquele que a nossa razão devia amar
acima de tudo: Deus. Este termo "atrativo" parece novo em
teologia, entretanto ele é a expressão da palavra de Nosso Senhor: "Ninguém
pode vir a mim, se Aquele que me enviou não o atrair" (Jo 8, 22). E
esta outra: "Uma vez levantado da terra, atrairei tudo a mim - omnia
traham ad meipsum" (Jo 12, 32).
O que é a graça e a
necessidade dos sacramentos
A graça em seu princípio é, pois,
a vida de Deus em nós: "Participatio quaedam naturae divinae",
diz Santo Tomás.
Para comunicar-nos a sua vida,
Deus podia agir imediatamente sobre a nossa alma; ele o faz às vezes. A simples
elevação dos nossos corações, pela oração, podia produzir este efeito, mas além
desta ação imediata de Deus sobre a alma, além do meio da oração, Deus
instituiu meios particulares para comunicar-nos as suas graças, meios
obrigados, indispensáveis: estes meios são os sacramentos.
Vejamos esta necessidade; está
admiravelmente descrita por S. Paulo (Rom. 6, 1-14): "Permaneceremos no
pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum" (6, 1). "Ora,
se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos" (8).
"O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei,
mas debaixo da graça" (14).
Há, pois, duas vidas em nós: a
vida do pecado e a da graça. Ora, esta graça é o dom de Deus,
proveniente dos méritos de Jesus Cristo. É a seiva desta graça que deve
circular em nós: "Nós somos os ramos, Cristo é o tronco" (Jo
15, 4-5). Deve haver união completa, íntima entre os meios de transmissão da
graça e a alma que recebe esta graça, como há união completa entre o tronco e
os ramos.
Na oração e nas boas obras esta
união completa não existe... Deve haver outro meio e este meio são os
sacramentos. Os sacramentos tornam-se, neste sentido, os canais transmissores
da graça divina às almas. Canais estabelecidos por Jesus Cristo, como veremos,
e portanto necessários.
Como provar a
existência dos sete sacramentos?
É um dogma, definido pelo
Concílio de Trento, que existem os sacramentos e que são em número de sete,
condenando o erro protestante.
São, pois, sete os
sacramentos, nem mais, nem menos, contra os protestantes que nunca
estiveram de acordo entre si sobre este ponto. A Igreja católica sempre ensinou
e sempre ensinará que há sete sacramentos, porque assim recebeu o ensino dos
Apóstolos, tanto pela Tradição, como pelo Evangelho, e assim o vai transmitindo
aos séculos. Nunca houve discussão a este respeito na Igreja, embora não
encontremos nos primeiros séculos a enumeração metódica que hoje empregamos na
citação dos sacramentos.
Três argumentos temos às mãos
para provar a tese dos sete sacramentos, e todos três são irrefutáveis:
a) A crença dos séculos
b) O bom-senso
c) O Evangelho
A) Crença Secular
O primeiro argumento da crença
popular desta verdade parece remontar ao século V., quando até mesmos os
hereges, como os monofisitas e os nestorianos, aceitavam o número dos sete
sacramentos. Em textos deles é explícito o número de sete sacramentos,
recebidos da Igreja Romana.
b) O Bom-senso
É apenas argumento de
conveniência, é certo, mas este argumento tem o seu valor pela analogia
perfeita que estabelece entre as leis da vida natural e as leis da vida
sobrenatural.
Santo tomas explica
admiravelmente esta analogia. Os sete sacramentos reunidos são necessários e
bastam para a vida, conservação e prosperidade espiritual, quer do corpo
inteiro da Igreja, quer de cada membro em particular.
Os cinco primeiros são
estabelecidos para o aperfeiçoamento pessoal, os dois últimos para o governo e
a multiplicação da Igreja.
Na ordem natural, para o
aperfeiçoamento pessoal, é preciso: 1o. nascer; 2o. fortificar-se;
3o. alimentar-se; 4o. curar-se na enfermidade; 5o. refazer-se
nos achaques da velhice.
Para o aperfeiçoamento moral a
humanidade carece de: 1o. Autoridade para governar, 2o. Propagação
para perpetuar-se.
Tal é a ordem natural. Temos os
mesmos elementos na ordem espiritual:
1o. O batismo é o
nascimento da graça
2o. A crisma é o
desenvolvimento da graça
3o. A eucaristia é o
alimento da alma
4o. A penitência é a cura
das fraquezas da alma
5o. A extrema-unção é o
restabelecimento das forças espirituais
6o. A ordem gera a
autoridade sacerdotal
7o. O matrimônio assegura
a propagação dos católicos e das suas doutrinas.
Os sete sacramentos são, deste
modo, como outros tantos socorros, dispostos ao longo do caminho da vida, para
a infância, a juventude, a idade madura e a velhice; para as duas principais
"carreiras" que se oferecem: sacerdócio e casamento.
Não se pode negar que a analogia
é admirável e estabelece que deve haver sete sacramentos. Se houvesse menos,
faltaria qualquer coisa; se houvesse mais, haveria um supérfluo; todas as
necessidades estão preenchidas.
c) O Evangelho
Para o protestante, escravo da
letra da bíblia, o último argumento deve ser o mais decisivo. Estarão expressos
no Evangelho os sete sacramentos? Perfeitamente! O que o protestante não
consegue entender é que Nosso Senhor não citou o número de 7, mas citou os
sacramentos.
Todavia, o mesmo protestante
acredita na Santíssima Trindade e Nosso Senhor nunca falou o número três para
designar esse mistério, apenas disse: "Pai, Filho e Espírito Santo".
O Evangelho não fala de sete sacramentos, mas
vai enumerando todos os sete, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo.
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